Com o início das férias, pais devem estar atentos à exposição excessiva dos filhos diante da TV. Agora que ela está conectada à internet, a televisão apresenta novas possibilidades às crianças e desafios aos pais
Presente quase que unanimemente nos lares brasileiros, a televisão representa companhia, ainda que virtual. Nas férias, quando crianças têm mais tempo livre devido à folga da escola, a tevê fica ainda mais “exibida” e se mostra aos pequenos como uma alternativa de diversão. E isso se mantém mesmo com a popularização de outros aparatos tecnológicos, como smartphones e tablets, já que, hoje, a televisão também se conecta. Nesse contexto, o uso correto do equipamento e da programação veiculada por ele pode ser benéfico para a educação das novas gerações, mas, se feito em excesso, oferece riscos tanto à saúde dos pequenos (incluindo distúrbios oculares e obesidade), como às suas relações sociais, como perda de empatia e contato com o outro. Com o início das férias e, consequentemente, o aumento da permanência das crianças em casa, a atenção para estes efeitos deve ser reforçada.
“Quanto mais a criança fica presa ao aparelho dentro de casa, consequentemente mais fora de outras atividades ela está”, explica o psicólogo. Segundo o profissional, o isolamento causado pela tevê, além de prejudicar a saúde, cerceia o contato da criança com a família — quando esta não se envolve na ação.
A psicanalista do Centro de Referência à Infância, considera essa uma visão pessimista do uso da televisão. Ela pontua que, no contexto positivo, a tecnologia possibilita a participação mais direta dos jovens na sociedade, principalmente com o uso da internet, “ressaltando as produções próprias sem intermédio de adultos” — a exemplo dos youtubers mirins.
No entanto, quando associada a televisão à internet e às novas mídias móveis, segundo o psicólogo, existem riscos relacionados “à privacidade e ao uso indevido de dados e da imagem das crianças e seus grupos de pertença e novas formas de trabalho infantil e de exposição da criança na vida pública. (…) Por outro lado, há oportunidades de livre expressão da criança sobre questões que lhe dizem respeito, de acesso à informação”, conclui a pesquisadora.
TV não deve substituir interação com outras crianças
Maria, 7, e João, 3, têm algo em comum além de gostar de assistir à televisão: ambos fazem bastante exercício físico para compensar o tempo que ficam sentados. João luta judô e Maria, que deve começar a fazer balé, passa horas brincando com seus cachorros e brinquedos. Essas atividades são exemplos do que as crianças podem fazer para não ter problemas de saúde como sedentarismo, obesidade e distúrbios oculares relacionados à atividade.
“Aí você tem que verificar se existem outros hábitos da criança pouco saudáveis, como alimentação inadequada, predisposição à obesidade”, cita o psicólogo e psicanalista. Quando a criança não brinca com outras de sua idade ou com seus familiares, ela também pode ter dificuldade em experimentar empatia — se colocar no lugar do outro. “Por mais ‘interativo’ que um programa seja, nunca vai substituir a interação humana, cheia de afetos que a máquina não consegue passar”, ressalta a psicanalista.
Pais devem acompanhar filhos diante da televisão
Manter as crianças sozinhas diante da televisão é como deixá-las desacompanhadas na rua. Sem a monitoria de adultos, elas ficam à mercê dos conteúdos disponibilizados pelas empresas de entretenimento. Mesmo que a maioria delas demonstre facilidade em dominar questões técnicas do uso da internet, crianças não são “nativas digitais” e não têm discernimento suficiente para desbravarem sozinhas os caminhos da rede. Pais, portanto, devem acompanhá-las nesta jornada dando dicas de aplicação das ferramentas online e sugestões de diferentes canais que possam contribuir para a aprendizagem cultural, científica e social delas.
“Tratá-las como ‘nativos digitais’ é também deixá-las sozinhas ao bel prazer da educação oferecida pelas empresas num entretenimento passível de ser acessado ‘gratuitamente’ na rede.
TV assistida em família pode despertar diálogos com as crianças
A programação de TV, quando acompanhada pelos pais, pode despertar diálogos com as crianças sobre os mais diversos temas. Uma oportunidade para transmitir lições e valores. Arte, ciência, política, economia, questões sociais. A televisão guarda em si um universo de conhecimentos que, na medida certa, contribuem para o desenvolvimento das crianças. Desenhos animados e até mesmo novelas e telejornais — desde que consumidos com bom senso e respeito à classificação indicativa — podem ser ferramentas importantes quando utilizadas pelos pais para ensinar aos filhos noções de cidadania.
Nos desenhos animados, principalmente, até mesmo o fantástico pode ser didático, visto que estimula a criatividade e a capacidade de idealização. Entretanto, é preciso estar atento aos comportamentos repreensíveis dos personagens e às ideias que eles reproduzem. “Idealizar é uma função, de certo modo, adaptativa”, compreende o psicólogo e psicanalista.
Classificação indicativa
Observar a classificação indicativa das tramas é, ainda, a melhor forma de se certificar de que aquele conteúdo pode ser assistido junto a crianças. A opção por deixar que os pequenos acessem o que está sendo exposto não é, contudo, uma forma de fazê-los absorver o que estão vendo.
“A leitura que a criança vai estabelecer dos conteúdos se associa ao seu repertório sociocultural, às mediações escolares e parentais, entre outros fatores que podem pôr em questão ou fortalecer as visões de mundo difundidas nas narrativas midiáticas”.
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Fonte: http://www.opovo.com.br/jornal/cienciaesaude/2017/07/a-infancia-diante-da-tv.html