Os bebês podem apresentar alergia à proteína do leite de vaca e também a alguns alimentos. Nesses casos, oferta é ainda mais cuidadosa.
Não se sabe o motivo, quando e como ela vai se apresentar. Não se sabe também por que a alergia alimentar tem crescido de forma considerável, principalmente nos primeiros meses de vida e tendo como principal “inimigo” a proteína do leite de vaca. Há fatores de risco, destaca a nutricionista Aline, que trabalha no Programa de Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV). Mas nenhuma certeza. A alergia também pode ocorrer com outros alimentos, um dos motivos pelos quais o processo de introdução alimentar precisa ser feito com cuidado. “O não aleitamento, a predisposição genética e o contato precoce com a proteína (do leite de vaca), geralmente na maternidade, são alguns dos fatores de risco. O bebê está terminando de formar o processo digestivo e então reconhece a proteína como algo ruim”, explica Aline. Se a alergia é identificada durante o aleitamento materno, a mãe precisa retirar a proteína da alimentação e ter cuidado ainda com os traços da proteína, que podem estar em vários alimentos. “O leite é um conservante, então pode estar no sabão, no presunto… com o pão carioca, por exemplo, é preciso cuidado por causa do maquinário, que pode ter resquícios de outros pães”, complementa.
Cesárias: Outro fator de risco mencionado por Aline é o aumento crescente de parto cesário, que impede o bebê de ser colonizado com bactérias da mãe (via vaginal) e com isso favorecer a uma microbiota saudável. “E consequentemente ter um fortalecimento do seu sistema imunológico, aumentando suas defesas”, complementa. Trigo, ovo, soja, banana, macaxeira, abacate, kiwi, mamão, feijão, milho, peixe, camarão. Esses são alguns dos alimentos que também podem provocar alergias. “Todo alimento tem uma porção alérgica e em algumas crianças o corpo reconhece essa porção como uma substância estranha e então reage”, detalha. Para os bebês que já têm a APLV, e portanto exibem um sistema imunológico um pouco mais fragilizado, o processo de inserção dos alimentos precisa ser bem devagar. “Normalmente, a oferta tem de ser com um alimento a cada três dias e começamos entre os menos alérgicos. Se é uma criança que já tem APLV, além do cuidados com os traços da proteína em utensílios de casa, a introdução deve ser ainda mais lenta”, afirma Aline. Nesses casos, não muda a textura e a forma que os alimentos serão oferecidos. Avaliações nutricionais garantem que o bebê esteja consumindo tudo o que precisa, apesar da sensibilidade do sistema imunológico. (Sara Oliveira)
PROBLEMAS SENSORIAIS SÃO PERCEBIDOS PELA ALIMENTAÇÃO
A linguagem e os processos sensoriais do bebê estão diretamente ligados à alimentação nos primeiros meses de vida. Desde a amamentação, a criança já prepara a língua, os lábios e as bochechas para falar. Isso continua com as movimentações necessárias da mastigação. As sensações do bebê, de se lambuzar, experimentar, levar algo até a boca são extremamente importantes para o desenvolvimento motor e cognitivo, ressalta a professora dos cursos de Terapia Ocupacional e Odontologia da Universidade de Fortaleza (Unifor). “A discriminação sensorial vem através de um estímulo, ao qual a criança dará um significado, através da sua análise perceptiva. Então se a criança tiver uma dificuldade em realizar essa discriminação, e o alimento já for passado no liquidificador, por exemplo, o estímulo não acontece”. Algumas crianças podem apresentar alta sensibilidade aos estímulos sensoriais, resultado de problemas neurológicos. “Nesses casos, tudo com fibra é mais difícil de ter aceitação, não gostam de coisas gelatinosas ou alimentos com grânulos. A criança pode sentir como se tivesse alguma coisa furando a língua”, detalha a professora. A rejeição pode vir também pelo odor. As terapias deverão trabalhar a integração sensorial, utilizando texturas a nível tátil e diversas consistências de alimentos.
SAIBA MAIS
1 As reações alérgicas podem ser imediatas, quando, em torno de duas horas, é possível identificar urticárias na pele.
2 Outras reações podem demorar até sete dias para se manifestar e, geralmente, são gastrointestinais.
3 O diagnóstico de alergia alimentar não pode ser dado com base em apenas um sintoma.
4 O prognóstico é de que, até os três anos, a alergia suma.
5 A partir de avaliações feitas trimestralmente, um teste de provocação oral pode ocorrer (de forma hospitalar) para comprovar se a alergia ainda existe.
6 O choque anafilático não é uma reação tão comum, mas pode ocorrer.
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