A maneira de olharmos o celular ou tablet, com a cabeça para baixo, já força um dos principais músculos do corpo. Despreparado, ele sofre e nós sentimos dor.
Você lembra que em muitas casas existia a mesa do computador? Para usar o equipamento, as pessoas sentavam em uma cadeira, com os pés no chão, as mãos em cima da mesa e o olhar na linha do horizonte. A cervical, os braços, o pulso, os dedos, os ombros, o quadril… tudo estava relativamente bem posicionado. Hoje, com os notebooks, tablets e smartphones, essa realidade mudou. Existe um excesso de uso, seja deitado, no ônibus, andando… e uma musculatura cada vez mais fraca e gasta.
“Imagine que nossa cabeça pesa e quem a está segurando é a musculatura posterior da cabeça, do pescoço. Então chega uma hora que isso fadiga, cansa”, destaca a fisioterapeuta. Ela se refere à comum posição de olharmos o celular com a cabeça inclinada para baixo.
Essa má postura pode causar a síndrome do pescoço do texto, caracterizada pelo desgaste ósseo e desidratação do disco intervertebral.
“A gente só ouvia falar disso com pessoas acima dos 60 anos, agora começamos a ver essas deformidades em crianças, adolescentes e adultos”, complementa.
O famoso bico de papagaio, que se manifesta quando os ligamentos e as cartilagens que envolvem as vértebras se calcificam, também mais comum em pessoas mais velhas, já aparece em faixas etárias menores. São as dores e patologias trazidas pela tecnologia. “A gente percebe uma incidência de doenças tendinosas no membro superior. Na coluna vertebral, vemos alterações em relação à dor e à postura”, pontua o médico ortopedista.
A dor é o sinal de alerta e ignorá-la pode trazer ainda mais dor e o agravamento de alguma lesão existente. A coordenadora da Clínica da Dor e professora universitária, explica que a tensão de um músculo pode tensionar outros músculos. “Uma dor na mão sobe para o antebraço e aí já há uma tendência de se forçar mais o movimento do ombro para diminuir a dor da mão e do antebraço. É como se fosse uma progressão de tensão, um ciclo vicioso”, detalha.
Essa tensão tem impacto direto no músculo e a dor que sentimos ao fazer movimentos repetitivos e por longa duração será resultado, na maioria dos casos, de nódulos, chamados de pontos de tensão. Já há, inclusive, a tendinite causada essencialmente pelos movimentos de escrever no WhatsApp. Mas como fugir no mundo tecnológico e das necessidades que ele impõe ao corpo? A resposta não é complicada: limites, posturas e preparo. Estar em dia com as atividades físicas e saber quando parar pode evitar inúmeras dores e doenças.
Como a dor acontece
Muito comum entre as dores causadas pelo uso de equipamentos tecnológicos é a cefaleia de tensão, ocasionada pelas dores musculares. “Geralmente começa na cervical, pega bem na base do osso occipital, que é a base do crânio. É a musculatura posterior do pescoço e ela dá uma dor irradiada, chamada de dor em capacete, que vai até a metade da cabeça”, explica a enfermeiral membro da Sociedade Cearense de Tratamento da Dor.
Quando se fala em dor, é preciso considerar que existem dois tipos de sensibilização: periférica, causada por uma alteração mais superficial; e a central, onde o sistema nervoso é afetado. “Muitas vezes a dor pode começar com uma tendinopatia, uma sensibilização periférica, e conforme não é tratada se torna crônica e chega à uma sensibilização central, aí é mais complicado”, detalha a enfermeira.
Quem é responsável por transmitir dores ao cérebro são os nociceptores, que estão distribuídos por todo o organismo. Uma explicação química detalha como esses nociceptores podem ser acionados: “uma das principais formas é pela transformação do ácido araquidônico em prostaglandina. Quem faz essa transformação é uma enzima chamada oxigenase, conhecida como COX. É justamente na COX que o medicamento antiflamatório atua, inibindo sua produção. Isso alivia a dor”.
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Fonte: http://www.opovo.com.br/jornal/cienciaesaude/2017/06/as-reacoes-do-corpo-aos-eletronicos.html