Os bebês têm um cérebro pronto para adquirir experiências e aprendizados que surpreendem. Herança genética e influência do meio definem o desenvolvimento cerebral.
Qual pai ou mãe nunca parou para se perguntar: como meu bebê pensou nisso? Estivesse ele tentando fugir do berço, reproduzindo um som ouvido há dias ou executando ações vistas apenas uma vez. Os bebês possuem um cérebro poderoso, capaz de absorver conhecimentos e perceber o ambiente de forma intensa. Nos dois primeiros anos de vida, principalmente. O vivido, o experimentado, junto à herança genética, serão aprendizados valiosos. “A criança é uma esponja, ela absorve tudo. É algo biológico. Na primeira infância, ela pode, por exemplo, aprender duas ou três línguas simultaneamente. É um super cérebro. Não é super no sentido final, porque não adquiriu os conhecimentos da experiência, mas o potencial é gigante, absurdo”, avalia um neurogeneticista. Mas, para que todo esse poder seja utilizado de maneira saudável, é preciso cuidado, atenção e “estímulos”. Além de amor.
Desde antes da gravidez já há interferência de fatores que serão responsáveis por um bom desenvolvimento cerebral. Eles variam do peso da mãe antes da gestação aos alimentos que serão consumidos pela criança depois de nascer. A inteligência dela trará o peso da informação genética carregada, definida no momento da fecundação, mas também o da influência do meio. Por causa dessa capacidade de absorver tudo à sua volta, seu desenvolvimento dependerá do que lhe for apresentado e vivido. A geneticista explica que o cérebro dos bebês se forma durante toda a gestação. “Nos três primeiros meses são formações mais ‘grosseiras’. No segundo trimestre, acontecem as migrações celulares. E, nos últimos três meses, as células crescem e adquirem formação importante”, detalha.
O bebê nasce e uma nova jornada começa. Pronto para receber o que lhe é oferecido, ele surpreende, se mostra independente e, ao mesmo tempo, tão carente de cuidados. Ver um ser humano começar a raciocinar é fascinante. As conexões feitas, as percepções exibidas, a curiosidade, a capacidade de abstrair… Existem tabelas, curvas e marcos que tentam avaliar o desenvolvimento cerebral infantil, com base na cognição e na coordenação motora. Mas são referências, nada é 100% aplicável a todas as crianças. Um estudo europeu apontou que a inteligência dos nenéns seria herdada da mãe. Porém, a geneticista Erlane Ribeiro acredita que não é algo que já se possa afirmar, considerando que essa conclusão não deriva de outras pesquisas. A genética é importante, definidora em casos de síndromes que podem causar deficiências intelectuais. Mas a médica corrobora com a ideia de que é o meio (o que se vive) o definidor do desenvolvimento do cérebro.
“Quando a gente viu, ele já interagia, ria, colocava o pé na boca, língua pra fora… a gente fica maravilhado de como, tão pequenininho, ele já tem esse desenvolvimento todo”, conta a professora. Ela é mãe de menino, de pouco mais de cinco meses, que sorri quando alguém por perto fala seu nome. “E não é só isso do estímulo que a gente vê, mas a atenção, o carinho que ele dá”, acrescenta a mãe.
Levantar a cabeça, virar, sentar, engatinhar… em poucos meses, o bebê é capaz de passar por todas estas fases. “Um dia, com quase três meses, colocamos ele na nossa cama e ele virou. Desviramos, mas aí ele foi de novo e ficou fazendo força com a perna, empurrando”, lembra. Ela destaca a importância de estimular o bebbê para que ele tenha um bom desenvolvimento cognitivo e motor.
Cognição é o processo responsável pela aquisição de conhecimento. “É um imenso quebra-cabeça, fruto do somatório das funções cognitivas, que são dezenas”, explica o neurogeneticista. Memória, percepção, linguagem, reconhecimento e reprodução de sons, musicalidade, o desenvolvimento motor… tudo acontece ao mesmo tempo.
Importância do meio
O especialista explica que é no meio onde a criança está inserida que também estarão estímulos de aprendizagem, vasculares, inflamatórios, instrutivos, infecciosos e emocionais. E essa relação entre o indivíduo e o ambiente já se dá na amamentação. Conforme o neurogeneticista, o leite materno possui substâncias que estão relacionadas ao bom desenvolvimento cerebral. “Existem trabalhos mostrando que a criança que suga, por estimular muito a musculatura perioral, que são os músculos mastigatórios, desenvolve a praxia oral, que envolve língua, boca, palato. O que ela vai usar na fala. Alguns estudos mostram que criança que mama fala mais rápido”, relaciona.Entre as funções cognitivas da criança, a memória é a mais poderosa. Mais especificamente a memória conhecida como anterógrada, caracterizada pela capacidade de armazenar novas informações. Ela fica na região do cérebro chamada hipocampo. “É uma memória para o novo e, como tudo para o bebê é novo, praticamente, tudo também é aprendizado”, ressalta o médico.
A percepção é outra função intensa do cérebro infantil. Ela se manifesta, por exemplo, quando o bebê consegue achar o caminho certeiro de sair do berço (ou da cadeirinha, ou do cercadinho). “É a aprendizagem de percepção do ambiente, de fenômenos. Lógico que é rudimentar, que ele não teve base para isso, mas é uma função cognitiva”.
Um cérebro em maturação significa neurônios em atividade. O especialista pondera: neurônios são uma unidade-base do sistema nervoso (capaz de processar estímulos cerebrais e repassá-los às funções do corpo), mas há células desse sistema que são coadjuvantes e importantes. “Existem relatos em relação ao cérebro do Eisnten, que o número de neurônios dele seria dentro da média, mas ele teria mais astrócito do que a população em geral”.
A importância do lúdico para o aprender
O brincar, principal ocupação da criança, ajudará na sua maturação cerebral. A terapeuta ocupacional destaca que existem brinquedos específicos para cada fase do bebê. “Bebês muito pequenos, é indicado preferencialmente o uso de brinquedos mais moles, de borracha, que emitam algum som. A partir dos noves meses, brinquedos de encaixe serão interessantes, trabalhando a coordenação motora fina”, explica. Fantoches, dedoches e casinhas já farão parte da fase de imitação, por volta dos dois anos.
E nesse processo de descoberta através do lúdico, a presença dos pais é necessária. Favorece o vínculo afetivo e a interação entre eles. “Os pais precisam ensinar o passo a passo, com calma, dando sempre o reforço positivo”, avalia. E essa interação está diretamente ligada ao desenvolvimento cerebral, já que é conversando com a criança, participando de suas ações, que os conhecimentos e aprendizados são passados e repassados.
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Fonte: http://www.opovo.com.br/jornal/cienciaesaude/2017/06/o-super-cerebro-dos-bebes.html